Brejo Paraibano: Fantasias e Simulacros é um projeto contemplado na categoria Criação e Produção Artístico-Cultural da Política Nacional Aldir Blanc. Com esse financiamento, pude realizar uma imersão no Brejo Paraibano ao longo de 2025 caminhando por cidades, registrando paisagens, escrevendo cartas a partir de entrevistas e deixando que a topografia, a água e a arquitetura moldassem meu processo criativo.

Desde o início, percebi que meu interesse não estava apenas nos edifícios ou nos traços culturais da região, mas na forma como esses elementos constroem e apagam memórias. Costumamos imaginar museus e galerias como lugares destinados a preservar o que permanece. No entanto, esta série de obras caminha em direção contrária: lida com o efêmero, com aquilo que se desfaz, com o que se reorganiza, com o que se esquece. Por isso, as obras foram concebidas para ocupar espaços não formais, lugares de passagem e convivência, onde a memória também circula.

O núcleo da pesquisa é um conjunto de 16 colagens, trabalhos que unem fotografia experimental, ilustração, manuscritos e imagens coletadas no Brejo. Essas colagens são a espinha dorsal do projeto: delas surgiram 4 fanzines e também as 12 esculturas que compõem a série.

Entre essas esculturas, 9 são obras individuais, derivadas diretamente dessas colagens e dos polípticos que formam os fanzines. As outras 3 esculturas integram o eixo educativo do projeto: são instalações coletivas, concebidas para existir apenas quando ativadas por outras mãos. Elas dependem da escrita, do gesto e da presença dos participantes, funcionando como cápsulas efêmeras de esquecimento, exercícios que convidam o público a refletir sobre o que apagamos, abandonamos ou deixamos de lembrar.

A contrapartida social do projeto nasce desse desejo de circulação e partilha. As três esculturas educativas podem ser replicadas por professores com seus estudantes, usando materiais simples e acessíveis, transformando jardins, pátios e espaços escolares em ambientes de criação. O projeto estabelece conexões entre arte, literatura, história, geografia e biologia, propondo um eixo transdisciplinar em que o Brejo deixa de ser apenas um lugar e se torna um método de fabular e interpretar o território.

Esta plataforma digital reúne todo esse percurso: as esculturas (individuais e coletivas), os fanzines, as colagens, o livro de artista virtual, o material educativo e os registros das ativações públicas. É um convite para que essas obras circulem para além dos museus, encontrando novos públicos, novas escolas, novos territórios, como uma escadaria viva entre memórias, esquecimentos e futuros possíveis.